16.1.06
The real thing
The name is Bolli, Bollinger. A favorita do 007, da chefe dele, a Rainha, das AbFabs e...minha. Só ontem, depois de tantas décadas, num almoço inesquecível (como todas as coisas do genero inesquecíveis, será deletado em alguns meses) com o diretor da Maison, Monsieur Philippe Menguy, descobri que tudo que bebi até hoje sob o nome champagne não passava de espumante, pobre da Viuva Cliquot, pobre do querido monge beneditino Pérignon. Este o vinho de champagne verdadeiro, suco de Pinot Noir encorpado, austero, convincente. Uvas Grand Cru e Premier Cru, quer dizer, de parcelas de terra demarcadas, selecionadas, escolhidas, algo que produziria um grande borgonha tinto, se a opção fosse esta. E mesmo atrás de uma camada de Chardonnay a alma tinta está presente. Nada de explosões de alegria gratuita, mas uma felicidade interna crescente, algo como o nirvana. Nada de bolhas profusas, mas um fio fino, quase inexistente de micro-borbulhas, não diria pérlage, pérolas são grandes, diria mesmo mera agulha, cadeia de atómos. Quanto mais foi avançando o evento, e a qualidade e tempo de guarda das garrafinhas, mais a coisa foi ficando cheia de gravitas. Começamos com a jovem tímida e caladona, mas de trato amável, a Special Cuvée Brut. Depois trocamos umas palavras com a irmã mais velha, mais culta, interessante, Grand Année Brut 95. No final conseguimos alcançar o máximo, fomos admitidos à presença da própria e sábia senhora, uma R.D. Extra Brut 90. Isto mesmo, 1990, quinze anos de espera para ser engolida com um suspiro de contentamento. Ainda muito fresca devido à acidez tão presente, mas amarelo ambar, cheiro de confeitaria quente num dia de inverno, sabor amendoado (no sentido de amendoas e no de algo oblíquo também). Esta bebida peculiar, afastadissima da exuberancia celebratória dos seus pares, parece mais...parece...não sei, parece com ela mesma, uma Bollinger que fica macerando e envelhecendo na própria borra por todos estes anos até ser recentemente degolada, numa tradução literal do R.D. do rótulo. O nome é Bollinger, pronuncia-se Bô-lân-gê, mas isto se a língua ainda conseguir se mover.