26.2.06

Quase escapou


Esta eu não tinha visto, foi o José Luiz Pagliari, o homem que sabe tudo de vinhos (e é modesto como ele só) que me chamou a atenção. Como Eric Asimov do NY Times começa seu artigo sobre os Riojas dizendo: "confesso, sou um partisan da região" (ou melhor, sou um fanático...) e eu também sou, não podia deixar de colocar o link aqui: http://www.nytimes.com/2006/02/22/dining/22wine.html
Como sempre explicando que para ler um artigo do NY Times é preciso estar inscrito como leitor online, mas que a inscrição é grátis e etc. E também para quem tem som no pc, vale a pena depois de ler o artigo, ouvir os comentários sobre as garrafas selecionadas, feitas em geral pelo próprio Eric mais um bando nada desprezível de convidados, como Frank J. Prial e alguns sommeliers e enófilos nova-iorquinos. Isto é que é carnaval!.

25.2.06

Remelluri blanco


Nem sempre o vinho é o que está na taça, é a sua história nela, o que vc sabe a respeito. Vinho é História e história, geografia e biografia. Um Remelluri blanco, com este nariz estupendo de cascas secas de laranja, de anchovas saídas do mar (mas como? o mar está a centenas de quilometros da Rioja Alavesa! O vinho não é para quem pensa cartesianamente. Há anchovas frescas no aroma do Remelluri e pronto), com esta carnosidade que te enche a boca e o espirito, alegria liquida. Aquele cheiro que dura segundos quando uma ostra é aberta, como se a onda do mar estivesse em refluxo mas ainda deixasse um restinho de maresia. E depois flores, petalas, um toque seco de mel, como se mel pudesse ser seco. O que mais se quer de um vinho? Que ele te transporte da Avenida Paulista poluida, feia e suja num sabado idiota de carnaval, para aquele sopé de montanha tão estupendo, para uma paisagem que nunca será a sua, para aquela tumbas milenares de mortos desconhecidissimos que já viraram minerais e que já viraram adubo e que já viraram vinho. Evoé Remelluri, um copo de vc é um carnaval. Beber um vinho assim vale uma missa. E depois vão aparecendo, sem nenhuma obviedade, o coco da madeira, tão discreto, tao elegante, um ponto sutil de botritis (ou será o skindo do carnaval já se intrometendo na minha olfação). Este vinho é um pequeno tesouro pré-quaresmal, depois dele realmente é preciso pensar 40 dias sobre o misterio da vida., e descobrir no final que tudo valeu a pena. Um vinho que faz chorar, como uma cantata de Bach. Sabe porque vinho é melhor que qualquer outra bebida? Por que vinho é comunitário, não é prazer solitário, é para ser compartido, dividido, só é realmente magnífico o vinho que é tomado em grupo.
Gracias Mikel Zeberio, David de Jorge e Juilián Armendáriz que me levaram aí por primeira vez, desta matéria líquida é feita a amizade e as gratidões. E Fifo e Margot Botti, com quem estivemos na porta da granja Nuestra Señora de Remelluri, chegar tão perto de Na. Sra. é mesmo como tocá-la.

Da arte de compartir


Não sei quem já teve a oportunidade de emprestar coisas que não voltam nunca. Eu infelizmente já, e como...então tive a complicada situação de provar 3 vinhos diferentes, em apenas 1 copo apropriado, com 3 pessoas diferentes. Parece mágica, dá certo, se as pessoas têm senso de humor (e tinham), mas é um malabarismo e tanto. Além da degustação às cegas inventamos a degustação em círculos. Obrigado ladrões de taças, voces forçam uma criatividade a mais no já malabarístico dia-a-dia do viver.

24.2.06

Ktima Pavlidis 2002


Pavlidis da região de Drama! Drama! O vinho não é dramático, ao contrário, deliciosamente ácido e mineral está descendo torrencialmente com um penne com brócolis, nozes e atum fresco. Estou quase vendo o por-do-sol no Pireu e ouvindo uma vozinha distante gritando: "Aritofánes!". Se os pré-socráticos tivessem um vinho destes não teriam deixado aquelas tabletinhas com fragmentos.

Amanhã



Vamos comentar um grande vinho português e um delicioso vinho grego, o português é o Meandro, segundo vinho da Quinta do Vale do Meão, do Douro, precisa falar pouco mais que isto, um vinho de Francisco Olazabal. O grego, está sendo bebido neste exato momento, muito fresco, corte de Sauvignon Blanc e Assyrtiko, e por isto só poderá ser devidamente comentado amanhã.

21.2.06

Come, come


Nem só de Michelin e guias locais de críticos inchados de si mesmos, como o insuportável "old fart" Rafael Garcia Santos na Espanha (um daqueles típicos bullies de restaurantes) vive o panorama da conversa inteligente sobre comida. Um grupo de gente do bem criou o Omnivore, um jornal simpático e agora também um guia. Acontece que o primeiro congresso do Omnivore acontecerá agora mesmo, esperamos que com grande resultado. Quem quiser visitar a página deles (um exemplar do jornal pode ser baixado grátis, no formato pdf) o endereço é este aqui:
http://www.omnivore.fr./
Infelizmente tudo ainda está somente na língua de Voltaire e Sartre, mas todo brasileiro acha que consegue entender francês, porque entende o Claude Troisgros na TV (haha, brincadeira!).

O Señor Vega Sicilia

Saiu na Gula que está nas bancas minha "aventura" pela região de Toro (não tem nada a ver diretamente com touradas, é no extremo noroeste da Espanha, frio e desolado, e lindo...) rumo ao encontro com Pablo Alvarez do Vega Sicilia, o link está aqui : http://www2.uol.com.br/gula/gulodices/160_noticias.shtml
Infelizmente, por falha minha acabei por chamá-lo de Alquiriz e não Mesquiriz como é o verdadeiro sobrenome materno dele, mas é que o nome original do Pintia, quando começou o projeto de VS fazer um vinho em Toro era Alquiriz, depois mudado para Pintia. Nisto que dá fiar na tremelicante memória...

Tanta terra, tão pouco terroir, vá entender...

Suzana Barelli, querida e experta jornalista de vinhos, conta que estão chegando ao mercado alguns brancos interessantes de Santa Catarina, cuja página web pode ser visitada aqui : http://www.villafrancioni.com.br/ Dou meu voto de confiança, mas desanimo um pouco ao ver que estão fazendo um Chardonnay e um Sauvignon Blanc, com todos os cuidados e carinhos, barricas de carvalho Allier e etc. Será que não dava para sermos mais ousados nas variedades? Plantar umas maluquices para ver o que pode sair? O melhor branco que tomei até agora (bom, ainda estamos em fevereiro...) foi o Maria Gomes de Luís Pato. Maria Gomes sendo a uva portuguesa da qual ele tira esta delícia na Bairrada. Mas tudo bem, louve-se mais uma vinícola brasileira, e ainda por cima em Santa Catarina. Esperemos...

16.2.06

Lá vai a rolha embora, de novo


Nenhum assunto volta mais à tona que o do desaparecimento das rolhas, da sua substituição por sintéticas, ou metálicas, ou de vidro ou screwcap: a tampa de rosca. Randal Grahm, o irreverente e engraçadissímo produtor de Bonny Doon fez o enterro simbólico de M.Thierry Bouchon, uns anos atrás, um nome fictício para a velha cortiça. E a rolha persiste e com ela o saca-rolhas. Mas agora um querido produtor do Loire, o Domaine de Baumard, com seu Savennières dentre meus amigos mais estimados, adotou a rosca. Neste caso não é um produtor comum, nenhum mega-industrial australiano, mas um refinado vinho branco longevo do Loire. Caso de se perder o requebrado, ou com a desculpa pela forma baixa de humor, o trocadilho: perder a rosca.

(a imagem é do melhor produtor de screwcap do mundo: Stelvin)

14.2.06

Uma visão da planície


Geralmente vemos a guerra de pontos de vista privilegiados, sempre do melhro ângulo. Por isto é instrutivo ler o relato de uma pessoa que foi ao Madrid-Fusión (mas para ser justo é preciso dizer que seria igual em qualquer destes eventos...) como simples frequentadora. Fez sua inscrição, pagou a caríssima taxa (em geral algo pertode 600 euros, preço de um carro velho vagabundo, mas um carro...) e foi sofrer na mão de todos, organização, hotéis e egos: a guerra na trincheira não tem nenhum charme. Há empurrões para sair na foto, disputa por um pedacinho de proteína e jovens chefs ambiciosos ávidos-por-aparecer-na-mídia-mesmo-que-seja-sendo-criticiado disputando espaço com velhos chefs ambiciosos a.p.a.n.m.m.q.s.s.c. Quem é de fora acha o Arzak um doce, é mais real ver este Arzak que ela mostra, um camaleão com um olho atento à oportunidade. Enfim, este o valor dos blogs, mostrar uma mosquinha no leite, que nem todas as viagens são perfeitas e nem todos os jantares maravilhosos. O link está aqui:
http://elenahernandez.blogspot.com/

12.2.06

A nova França?

Artigo semanal de Jancis Robinson no FT e reproduzido no site dela, na parte de acesso grátis aqui: http://www.jancisrobinson.com/articles/winenews060211 explica porque a Espanha é a queridinha de muita gente (y compris o que escreve este blog...) e porque os franceses têm razão de estarem preocupados com o ataques australiano-argentino no lado quantidade e espanhol no lado qualidade dos vinhos.

9.2.06

Almoço com Pablo Álvarez do Vega Sicilia

Vinhos provados (ainda não no mercado):
Pintia 2003
Alión 2002
Valbuena 2001 e Valbuena 2000
Vega Sicilia "Unico" 1995

Léon

Como só amanhã teremos uma grande prova de vinhos para comentar, aproveito aqui a parte que contribui no foro de leitores do site da Jancis Robinson, numa discussão sobre biodinâmicos. Me empolguei e acabei faznedo um mini guia portátil de Léon, que ela gentilmente classificou de "cheio de atmosfera". Fiquei inchado de vaidade como um baiacu, assim que lá vai:

"Since last year's forum at Vic (in which we tasted with Ricardo Palacios and Joly himself - very funny man, indeed, mesmerizing - some "anthroposophic wines": Jacques Selosse, Coulée de Serrant, Moncerbal, Gramenon , Derain , Dominio de Atauta...)
I am planning a visit to Villafranca del Bierzo, and tried twice to get there but on both occasions it flopped (it's so far north, so difficult to reach without a car...). In March I reached León and talked with Ricardo by phone. He was waiting me, but there is one single daily bus between León and Villafranca del Bierzo, and it takes four hours to accomplish the 200 km. I had to abort the mission and return to planet earth. Last November en route to León again, I had my scheduled changed to meet that very polite man from Vega Sicilia Mr Alvarez, to visit their Pintía operation in Toro, an invitation impossible to let go, ça va sans dire. When this finally arrived Ricardo had some problems in Madrid and couldn't return from the La Guia tasting. I spent a wonderful weekend in León, just resting in that charming Castillian city.

I do recommend a visit, the most beautiful cathedral in Spain, except Cordoba, plus some so nice plazuelas, alleys, a Gothic quarter poetically called Barrio Humedo, a place with astonishing aplomb as for what it is: a centre for an empire that is not there, a void, curious place. There is a one Michelin star restaurant called Vivaldi, just average, but one of those reliable old places of ever, where you can eat a decent salad of fresh asparagus plus some grilled sweetbreads and an almond tart, called Casa Pozo and of course the impressive Parador (that I could describe, quoting you in reverse, as Vega Sicilia in stone).

I drank some interesting wines: Luna Beberide that is also Mencía and from Mariano Garcia (? I am not sure and Aalto , Quinta Quietud and Bembibre. I don't know were my notes are but I know I liked Aalto and not the others, and didn't visit the each time more unreachable vineyard. I've tasted the other wines in Barcelona with Quim Vila ( Pétalos, Corullón, San Martin, Las Lamas...).

Coincidentally Mistral [a major, family-run Brazilian fine wine importer] will present the new wines they are importing next Friday, and among them Palacios Remondo and Petalos del Bierzo and Corullon. Can't wait to read your account on Spain. I like the place more and more, if it's possible to love it more than I already do. Hope not to damage your language too much but I have to work at night because it's 34 degrees C and my brain is roasted".

8.2.06

Malbec

Interessante artigo de Eric Asimov no NY Times sobre a Malbec, que pode ser lido aqui:
http://www.nytimes.com/2006/02/08/dining/08wine.html?_r=1&oref=slogin
A idéia não é nova, mas raramente é de fato executada em provas de vinhos, comparar Cahors e Argentina, mas o painel é um pouco acanhado com apenas 5 vinhos, teria sido melhor com uma gama mais variada de argentinos, pois já há para tudo, inclusive um pouco de terroir mendocino, patagônico e saltenho no assunto. Enfim, é um começo.

5.2.06

Canícula


(12 graus, eu era feliz e sabia...)
Sei, o blog é sobre vinhos e quase ninguém bebe vinho nesta página. Fa caldo Madame! Quando refrescar o vinho volta a ser gostoso, semana que vem teremos novidades, algumas preciosidades serão bebidas, novos vinhos do filho do Catena Zapata, uns borgonhas de estirpe, reencontro com o Petalos del Bierzo de Alvaro e Ricardo Palacios, um biodinâmico bem radical, arrancado das terras de Castilla y Léon. Mas por enquanto, quem diria, aderi ao refrigerante. Passei pelas Colas, depois revisitei o Guaraná, mas como tudo tem cafeína demais, fiquei na Fanta laranja light.

4.2.06

Bananas

Duas copas do mundo passadas, ou três (êta idade!) tínhamos um grupo de amigos que cozinhava pratos dos jogos, assim: principal de um time e sobremesa do adversário, mais ou menos dentro de umas regras (tinha umas roubadas na tabela, para ornar, senão ficava complicado comer, cardápio é como escanteio, todo mundo discute). Só que dava muito prato com banana, país pobre sempre tem prato com banana (apud Nísia). Pois hoje no NY Times apareceu um maluco que inventou um descascador de bananas, para fazer uma coisa que realmente é gostosa, "patacones", umas grandes moedas de ouro (daí o nome) feitas com banana frita. Tem até vídeo explicativo e o acesso é grátis, aqui:
http://www.nytimes.com/2006/02/01/dining/01peel.html